
Como descobrir o que quer fazer a seguir (sem gurus nem testes mágicos)
Quando tudo parece possível, é fácil sentir-se perdido. E quando tudo parece fechado, é difícil acreditar que ainda há escolhas. Descobrir “o que se quer fazer a seguir” não é um momento de iluminação espiritual nem uma fórmula replicável. É um processo — e, muitas vezes, um processo desconfortável.
Sobretudo quando não se quer repetir o erro anterior. Quando já não se quer apenas “um emprego”. Quer-se direcção. Sentido. Utilidade. E espaço para ser mais do que um cargo.
Este artigo é para quem está nesse lugar: entre o fim de um ciclo e o início de outro. Sem respostas prontas. Mas com perguntas certas.
1. Aceitar o vazio sem pânico
O primeiro passo não é descobrir. É aguentar o não saber. Resistir à pressa de ter um plano só para calar a ansiedade. Não preencher o silêncio com qualquer resposta.
Ficar sem chão durante um tempo pode ser fértil. É nesse intervalo que começamos a ouvir. A sentir. A reconhecer o que é nosso e o que foi apenas convenção.
Antes de decidir o que quer fazer, permita-se não saber durante algum tempo. Isso não é inércia. É preparação.
2. Abandonar a ideia de uma única vocação
Vivemos com a ideia romântica de que cada pessoa tem “um propósito” ou “um talento único” a descobrir. Essa ideia não só é limitadora, como é opressiva. Muitos de nós somos multifacetados, adaptáveis, em constante reinvenção.
Não procure “a coisa certa para fazer para sempre”. Procure o próximo passo certo para agora.
Aquilo que faz sentido hoje pode não ser o que fará daqui a cinco anos — e isso é saudável.
3. Investigar o que o move — em vez do que é “rentável” ou “estável”
As decisões não devem ignorar a realidade económica. Mas também não devem ser guiadas exclusivamente por ela.
Quem escolhe apenas com base no mercado, corre o risco de chegar aos 40 exausto e cínico.
Quem escolhe apenas com base na paixão, corre o risco de se desiludir com a precariedade.
O ponto de equilíbrio está onde as suas capacidades se cruzam com aquilo que o mundo precisa — e com aquilo que você pode sustentar (emocional e financeiramente).
Perguntas úteis:
– Que tipo de problemas gosto de resolver?
– Em que situações me sinto mais útil?
– Que elogios recebo com mais frequência (e são verdadeiros)?
– Que tipo de tarefas me fazem perder a noção do tempo?
4. Olhar para o passado sem nostalgia — e com olhos de aprendiz
O passado não é um erro a apagar. É matéria-prima para escolher melhor.
Analise as suas experiências anteriores: o que gostou, o que detestou, onde foi valorizado, onde se sentiu usado. Não para repetir, mas para recolher padrões.
Exercício prático:
Crie duas colunas:
– Situações onde se sentiu em alinhamento
– Situações que o drenaram
Observe. O que se repete? O que já não quer tolerar? O que faz falta?
5. Experimentar antes de decidir
Antes de mudar de área, curso ou carreira, experimente em pequeno.
– Converse com quem já trabalha nessa área
– Faça um curso curto, uma formação intensiva, uma colaboração pontual
– Ofereça-se para contribuir voluntariamente num projecto específico
Testar no terreno é mais útil do que mil testes vocacionais. É na fricção com a realidade que se descobre o que encaixa (e o que não encaixa de todo).
6. Substituir “o que quero fazer” por “como quero viver”
Talvez a pergunta não seja “o que quero fazer da vida”, mas “que tipo de vida quero construir?”
– Quero mais tempo livre ou mais desafio intelectual?
– Quero rotina ou variedade?
– Quero estabilidade ou possibilidade de viajar?
– Quero trabalhar com pessoas ou com ideias?
Estas respostas são bússolas. A profissão não é um fim. É um meio para criar a vida que deseja.
7. Não decidir sozinho (mas filtrar bem quem ouve)
Nem todos os conselhos valem a pena. Há amigos bem-intencionados que projectam os seus próprios medos. Há gurus que vendem promessas com pouco realismo. E há familiares que querem segurança, não liberdade.
Escolha duas ou três pessoas com pensamento crítico, escuta empática e experiência real. Fale com elas. Teste ideias. Mas tome a decisão consigo.
Descobrir o que quer fazer a seguir não é responder a uma pergunta — é viver uma transição com lucidez.
É aceitar que as respostas vêm em etapas. Que não há garantias. Mas há direcção, se houver escuta.
E que nenhuma escolha é definitiva. Mas continuar sem escolher, por medo, é abdicar do poder de construir uma vida com intenção.
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