Como criar um CV que conta a sua história (e não só os seus cargos)

Num mercado saturado de perfis técnicos, o que distingue verdadeiramente um candidato não é apenas o que fez, mas como conta aquilo que fez. Em 2025, o CV continua a ser uma ferramenta essencial — mas já não basta listar funções. Os recrutadores procuram um documento que seja simultaneamente claro, estratégico e humano. Um CV que contenha uma narrativa coerente e que mostre não apenas o percurso, mas também a intenção por trás dele.

Este artigo oferece um guia prático e estruturado para criar um CV que conta a tua história — sem exageros, sem floreados, mas com verdade e impacto.

1. O CV não é um registo — é uma declaração

Evita tratar o currículo como um arquivo de tudo o que fizeste. Um bom CV deve funcionar como um documento de posicionamento: selecciona, organiza e comunica o teu percurso com lógica e intencionalidade. Não é sobre dizer “fiz isto e isto”, mas sobre mostrar “sou esta pessoa profissional porque percorri este caminho”.

2. Começa com um resumo profissional que posiciona

Logo no topo do CV, antes da experiência profissional, inclui um resumo de perfil com 4 a 6 linhas. Este parágrafo deve funcionar como uma síntese da tua identidade profissional, destacando área de actuação, anos de experiência, especializações relevantes e valor que entregas.

Evita frases genéricas como “profissional dinâmico à procura de novos desafios”. Sê específico, objectivo e, acima de tudo, orientado para o contributo.

3. Cada experiência profissional deve contar uma mini-história

Em vez de listares tarefas, estrutura cada função com foco no contexto, acção e resultado. A fórmula é simples:

– Que desafio encontraste?

– Que papel desempenhaste?

– Que impacto geraste?

Por exemplo, em vez de escrever:

– Gestão de equipa

– Coordenação de projectos

Podes optar por:

Liderança de uma equipa multidisciplinar num projecto de implementação tecnológica com prazos apertados, resultando numa melhoria de 30% na eficiência operacional.

Este tipo de descrição mostra raciocínio, responsabilidade e resultado. Traduz trabalho em valor.

4. Ordena por relevância, não apenas por cronologia

Embora a ordem cronológica inversa seja o formato mais comum, há espaço para destacar experiências mais relevantes — mesmo que não sejam as mais recentes.

Se estiveres a mudar de área ou a voltar ao mercado após uma pausa, podes considerar formatos híbridos ou funcionais, desde que a leitura seja clara e lógica. O objectivo é mostrar coerência e progressão.

5. Evita palavras vazias e aposta em verbos de acção

“Responsável, motivado, bom comunicador” são adjectivos gastos. O foco deve estar nas acções concretas.

Usa verbos como:

– Desenvolvi

– Coordenei

– Implementei

– Optimizei

– Conduzi

– Aumentei

– Resolvi

Estes verbos comunicam agência, impacto e envolvimento real.

6. Inclui uma secção sobre projectos, formação ou contributos paralelos

Projectos extracurriculares, voluntariado, consultoria pontual, produção de conteúdos, formação contínua — tudo o que reforça a tua identidade profissional pode ser incluído. Esta secção mostra que tens dimensão para além do cargo.

Opta por um título como:

– Projectos Relevantes

– Colaboração e Participação

– Formação e Desenvolvimento Contínuo

Inclui apenas aquilo que acrescenta valor à tua candidatura.

7. Adapta o CV ao que o recrutador precisa de saber

Lê sempre com atenção o anúncio da vaga. Identifica as palavras-chave, competências técnicas e comportamentais procuradas e espelha essa linguagem no teu CV — sem copiar literalmente, mas reflectindo alinhamento.

Adapta pequenas coisas:

– Títulos de cargos para que sejam mais compreensíveis

– Destaques em bold para facilitar a leitura

– Estrutura de secções conforme o que for mais relevante para a vaga

8. Cuida do design — mas prioriza a legibilidade

– Evita modelos excessivamente gráficos ou com elementos decorativos inúteis

– Usa fontes simples e profissionais (Arial, Calibri, Helvetica)

– Prefere PDF a Word para garantir formatação intacta

– Nomeia o ficheiro de forma limpa: CV_NomeApelido.pdf

Mais do que parecer criativo, o importante é facilitar a leitura e transmitir profissionalismo.

Criar um CV que conta a tua história exige mais do que boa escrita. Exige olhar para o teu percurso com sentido crítico, escolher o que mostrar, e alinhar a forma ao conteúdo. Um bom CV não é uma cronologia — é uma construção narrativa. Não se limita a dizer o que fizeste, mas mostra quem te tornaste com o que fizeste.

Porque, no fundo, o que os recrutadores procuram é isso: alguém que saiba quem é, o que tem para oferecer — e que o saiba comunicar.

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